Basalt


É com enorme honra e satisfação que o VIOLENT NOISE realiza uma conversa com o pessoal do BASALT. Para quem ainda não os conhece, estamos falando de uma banda que tem uma sonoridade bastante peculiar. Trata-se de um quinteto de São Paulo que executa uma música densa e mistura gêneros como Doom Metal, Sludge e Post-Metal. Pedro (guitarra) e Marcelo (voz) falaram sobre o surgimento da banda, o cenário Underground, lançamento do primeiro Full e outros aspectos interessantes.

Maiores detalhes sobre o grupo podem também ser verificados através do Facebook.

Confiram a entrevista e não deixem de apoiar a banda e o nosso Underground.

O BASALT iniciou as atividades em 2015. Como surgiu a ideia de formar a banda?

Pedro: Eu vinha conversando com o Luiz a respeito de montar uma banda havia algum tempo. Eu tinha uma banda de Doom mais psicodélico, o Magzilla, e queria encaixar outras idéias em algum outro projeto e ele já não estava mais no Meant to Suffer na época, e queria montar uma banda com uma sonoridade diferente do Grindcore. E na verdade, o Luiz acabou sendo uma peça central nesse início. Ele chamou o Marcelo, que eu mal conhecia, mas já sabia da potência da criança por ter visto alguns shows do O Cúmplice. Encontrou também o Victor querendo montar uma banda com uma proposta que batia com a nossa e, por fim, o Marcelo trouxe o Cuca, nosso primeiro baixista, que hoje toca no Rastilho. No final das contas estávamos todos caminhando para um lado parecido e logo no primeiro ensaio que fizemos isso já ficou claro.

De onde surgiu inspiração para o nome?

Marcelo: Nomear qualquer coisa é muito difícil. Ainda mais com toda possibilidade, com os diversos idiomas. Além disso, existe outra questão: a quantidade imensa de bandas que já escolheu nomes que tenham a ver com o “estilo”. Com BASALT não é diferente. Existem outros mundo afora, e hoje isso me preocupa bem menos do que antes. Conforme íamos compondo e escrevendo, as músicas iam criando uma “atmosfera” se é que posso falar assim. Acho que sem intenção, um “clima” pesado, intenso e obscuro ia surgindo e sendo transmitido através da música. As estruturas musicais sempre foram mais abertas, sem muita obrigação de ser “coerente” a um modelo ou um estilo. Os elementos vão aparecendo e se vão funcionando eles vão sendo aplicados e agregados nas músicas. Por isso que, ao mesmo tempo em que são muito parecidas, são muito diferentes entre si.

Quando começamos a escrever juntos, muitas vezes me peguei pensando no quanto a “escuridão” moral, espiritual, existencial do ser humano vem sendo explorada, na música, na literatura, no cinema. Nossas letras são muito metafóricas, tem uma simbologia própria para que cada um que se preste a fazer uma interpretação, conclua algo por si. E algumas delas já estavam sendo trabalhadas antes de fecharmos o nome da banda em definitivo. Foi juntando essas percepções que pensei no quanto as rochas basálticas são uma metáfora interessante. São negras, pesadas, densas, extremamente antigas, vêm das profundezas da terra. São amorfas, e junto de outros elementos criam outras rochas. E isso tem muito e nada a ver com a natureza humana, um geomorfismo para entender a essência humana em seus defeitos e falhas.

Grande parte dos grupos nacionais escolheu o inglês para cantar. Ao contrário disso, vocês optaram por cantar em português. Por qual motivo? Acreditam que cantando em nosso idioma, a penetração no mercado internacional seja mais limitada?

Marcelo: Antes de tudo, ao escrever, gosto de ter domínio do idioma. Eu não me sinto confortável com o inglês, me faltaria vocabulário, minha pronúncia é ruim, sou péssimo na gramática também. Dito isso, eu sinto que não seria capaz de criar jogos de palavras em uma língua que eu não domine. Para mim, a letra de uma música é a expressão de um sentimento, de uma mensagem e também uma construção artística. Para outros pode não ser nada disso, e não há um problema. Falo isso em uma percepção estritamente pessoal. Venho mantendo isso, desde as primeiras bandas que toquei lá pelos anos 90, e acho que hoje tenho essa ideia bem amadurecida.

Penso também que existe algo de profundo em qualquer idioma que é a relação do campo escrito com a cultura ao redor e, pensando assim, ao escrever noutro idioma, eu perderia muitas associações possíveis. Como não sou falante nativo de outro idioma, com as minhas deficiências, eu teria de fazer aquele jogo mental de compor uma ideia e “traduzir”. E tradução por si é uma nova escrita, uma transposição para interpretação de outra.

O português, a meu ver, é um idioma riquíssimo de ser explorado. Tiro muito do que escrevo de minhas experiências e de leituras que tive no correr da vida. A literatura nesse idioma é imensa, pense nesses autores: Saramago, Machado de Assis, Mia Couto, Eça de Queiroz, Graciliano Ramos, Fernando Pessoa, Guimarães Rosa, Camões, Pepetela, José Luandino... Existe uma poética, uma melancolia, uma fluidez de palavras, uma tristeza e solidão que creio, só a língua portuguesa tem. Outros idiomas devem ter, mas vivem à sua maneira diferente de nós. Não quero parecer prepotente ou “artista” demais. Além do mais, também não sou linguista, mas sou apaixonado por nosso idioma, os diferentes sotaques, expressões, tudo isso me interessa. As palavras são vivas, frutos do tempo e das sociedades, gosto de pesquisar, de entender suas raízes, de onde vêm.

Não acho que isso seja um impedidor. A música subterrânea teve seus momentos nos holofotes, mas também tem sua própria rede de atuação, que me interessa muito e parece ser mais aberta. Acredito que além do “mercado”, as próprias pessoas parecem estar mais abertas, pois estamos expostos a referências mais amplas. E acredito também que exista espaço para as bandas que escolham o próprio idioma, Sinistro (Portugal), Celeste (França), Sólstafir (Islândia), são exemplos de que o idioma acaba dando também uma identidade a mais na música que uma banda pode fazer. Por fim, acredito também que uma banda opta por cantar inglês por estética, por sentir-se confortável, por ter referenciais naquela língua. Acho que atualmente não é mais uma questão de “mercado”, pois para muitos a globalização tem fatores culturais terríveis, mas um que posso dizer que, acredito ser positivo, é de perceber que é possível fazer música extrema de qualquer forma, em qualquer idioma e isso não ser impeditivo para nada.

Como se dá o processo de criação das composições e das letras?

Marcelo: Sobre as letras, eu costumo escrever sempre, tenho cadernos e blocos de nota no trabalho, na mochila e em casa. A inspiração vem de tudo, do meu estado de humor, das transformações sociais, das relações humanas, da política, dos questionamentos sobre a existência, as respostas que não vêm quando precisamos, de uma percepção e da falta de propósito de muito do que vivemos. Por vezes escrevo algumas linhas, noutras faço partes mais longas. Depois nos ensaios, tento trabalhar como encaixar no instrumental. O caminho inverso também ocorre. O instrumental ficar pronto e eu escrever uma letra para ele. Por conta disso, gravo quase todos ensaios e ouço sempre as músicas nos diferentes estágios de composição.

Pedro: Normalmente eu levo um embrião com um certo nível de estrutura para a parte instrumental das músicas e a gente trabalha os ritmos, dobras e passagens nos ensaios. É nesse ponto que a música de fato aparece. Como essas idéias surgem e vão embora com uma velocidade absurda, eu tenho o hábito de gravar tudo em casa mesmo. Dessa forma a gente também consegue formular uma parte das idéias separadamente e, quando chegamos no ensaio, já temos uma noção do que pode encaixar em cada parte.

Vocês lançaram "O Coração Negro da Terra" e depois o "Atlântico", um Split com o pessoal do Redemptus. Quais as repercussões destas obras na carreira da banda?

Marcelo: Mais do que qualquer repercussão externa, seja junto ao público ou à imprensa, por exemplo, essas primeiras gravações foram muito importantes para todo mundo da banda se conhecer melhor sonoramente e evoluir nesse sentido, até porque foi tudo muito rápido, já que começamos a tocar por volta do meio de 2015. Como nossos primeiros registros, os discos representam muito bem os diferentes momentos do Basalt e nos ajudaram a chegar a mais pessoas e nos conectar com outras bandas que pensam a música de maneira parecida, como é o caso do próprio Redemptus, com quem lançamos o split, e outras bandas do Brasil.

Pedro: Pegando o gancho do que o Marcelo falou, acho que o importante desses diferentes momentos é conseguir variar, mas sem parecer uma colagem de influências, fazer as coisas sempre com a nossa impressão digital bem clara. Acho que o primeiro disco foi bom pra estabelecer essa digital. A partir disso, a intenção é explorar milhares de possibilidades tentando nunca perder essa essência.



Quais as bandas que mais influenciam o som do BASALT?

Marcelo: De minha parte várias, em especial nisso que fazemos: Neurosis, Eyehategod, Amenra, Killing Joke, His Hero is Gone e uma porção de outras.

Pedro: Pra mim a influência nas composições está sempre vindo de um lugar diferente, às vezes a fagulha pode vir de qualquer coisa. E quando eu digo qualquer coisa, entenda que pode ser Pink Floyd ou Aviões do Forró. E isso tem zero de ironia, é tudo música, mas é obvio que depois entra num outro filtro das influências que eu acho que combinam com a sonoridade da banda mesmo. Aí entramos Black Metal Noruega, Neurosis, uns Doom romântico tipo My Dying Bride e Warning, umas coisas mais dissonantes como Death Spell Omega. Enfim, é uma mistura meio doideira, mas acho que no fim das contas dá certo.

Como vocês enxergam hoje, o cenário do underground nacional e quais as maiores dificuldades que, de forma geral, as bandas enfrentam?

Marcelo: Na verdade não vejo como uma dificuldade, mas diria conseguir que as pessoas te notem. Atuar em nível underground, meio que já prevê fazer as coisas por si, sem depender de ninguém. Pagar pelo espaço de ensaio, custear gravação, manter um equipamento próprio, mas tem coisas que estão fora do nosso controle, como “atrair" público para um show. Acho que por conta da fragmentação do underground, criaram-se micro cenas especializadas de todos os tipos de sons possíveis no espectro da música pesada. Dilui o possível público. Além disso, vivemos uma época de “excesso de informação”. Toda hora sabemos de algo, temos de ouvir, ver, todo mundo querendo chamar sua atenção, fica meio “difícil” de algo cativar, trazer interesse. Fora isso, acho que o “rolê underground” precisa se estruturar mais. Nos últimos anos, muita coisa avançou positivamente, mas penso que pode avançar mais. Só dando um exemplo, nosso país é enorme, as distâncias são colossais para se fazer tour, então acertar em coisas básicas como alimentação, transporte, acomodação. Isso é importante. Ter uma imprensa um pouco mais aberta e especializada seria bom, temos blogs, zines, sites que fazem um trabalho sem precedentes divulgando bandas, mas quando você olha para as bancas de jornal, parecem que as capas das revistas são as mesmas há 30 anos. Não sei se pelo público geral ser “conservador” demais ou por uma preguiça editorial sem precedentes.

Vamos finalizar nossa conversa e gostaríamos que mandassem um recado aos fãs do grupo e aos amantes do estilo musical que vocês executam.

Pedro: Apoiem do jeito que vocês puderem as bandas que vocês curtem, seja comprando material, seja colando nos shows ou o que estiver ao seu alcance, qualquer tipo de apoio faz diferença. Quanto ao momento da banda, estamos trabalhando nas músicas para o nosso segundo Full, que, se tudo ocorrer como imaginamos e planejamos, será gravado ainda neste ano e devemos voltar a fazer shows nos próximos meses.

Foto da banda: Leandro Furini

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