Kadabra
É com grande
honra e orgulho que, mais uma vez, recebemos a visita do KADABRA no VIOLENT
NOISE para uma nova entrevista. Este Power Trio de Vinhedo/SP vem não somente
se destacando, mas também crescendo com o seu Heavy/Thrash Metal bem feito e
muito bem elaborado. Tivemos uma breve e proveitosa conversa com Paulo Bertoni,
o guitarrista/vocalista, e ele nos esclareceu diversos pontos a respeito do
grupo: mudança de formação, lançamento do novo álbum, clipe novo e até a
situação política afetando o cenário Underground.
Confiram a
entrevista e vamos apoiar o nosso Underground. Demais detalhes também podem ser
obtidos no Facebook oficial do grupo.
Apreciem,
divulguem e prestigiem!
Faz pouco mais de
um ano e meio que conversamos com o KADABRA. Houve uma modificação na formação
do grupo, pois o baterista Marcos Frasão não faz mais parte do Lineup. Qual foi
o impacto desta saída e como foi achar um novo batera?
Paulo: O Marcos saiu da banda sem problemas
pessoais. O que rolou foi aquela velha história: trabalhar muito e receber
pouco. Isso desanima alguns caras e foi o caso dele. Ao mesmo tempo, o resto da banda não queria
fazer concessões, queríamos fazer som cada vez mais pesado e tocar o máximo
possível ao vivo, sem contar no investimento para um novo disco.
Nós ficamos bem
aflitos com a saída dele, pois o cara é um monstro e existem poucos bons
bateristas disponíveis para esse tipo de empreitada na nossa região. No
entanto, a nossa caminhada teve uma coisa boa que foi a parceria profissional
que fizemos, seja com outras bandas, seja com produtores e etc. Esses amigos
nos ajudaram a chegar ao atual baterista, Ian Kokubun. Este que já saiu fazendo
shows e tendo que se virar, já que a banda não queria parar a agenda de jeito
nenhum. Era momento de chutar para o gol algumas bolas que havíamos levantado.
Vocês lançaram
“Remains of the Past”, o segundo álbum do grupo. Como foi esse lançamento?
Paulo: Com a entrada do novo baterista completamos o
final de 2018 fazendo uma série de shows, usando o repertório antigo. Em
janeiro de 2019, iniciamos as novas composições e fizemos toda a pré-produção
de forma simultânea com a agenda da banda. Aos poucos, fomos incluindo músicas
novas ao vivo para testá-las e deu certo. Ensaiamos e tocamos esse disco novo
durante seis meses, praticamente todas as semanas. Aí sim, fomos gravar com os
nossos camaradas da KUB Produções. No final de setembro, organizamos um evento com
mais duas bandas locais e oficializamos o lançamento desse novo trabalho.
Traçando um
comparativo entre o último álbum e o “Devastation’s Songs”, o primeiro, quais
seriam as mudanças mais significativas?
Paulo: Nossa! São inúmeras. O “Devastation’s Songs” é
mais cru, ainda havíamos de amadurecer um pouco as vozes, erramos aqui e ali,
apesar de ser um bom disco. No atual, preparamos tudo com muito cuidado, as
músicas estão mais elaboradas, flertando com outros estilos musicais. Isso sem
falar no belíssimo trabalho de bateria e baixo que conseguimos entregar, para
além das tradicionais guitarras que, quase sempre, se protagonizam no Metal. Eu
gosto mais do “Remains of the Past”, pois ele retrata melhor o que somos como
músicos hoje.
O KADABRA lançou
um clipe para a faixa “The Blackboard”. Como se deu a escolha desta composição?
Paulo: A “The Blackboard” foi um desafio para todo mundo
desde o início, por isso foi escolhida. Nós a achamos muito complicada de ser
tocada nota por nota, uma vez que se muda muito de andamento, chegando até a
220 bpm com um blastbeat. Os vocais são muito variados, nela tem gutural, tem
rasgado, tem falsete, voz limpa e etc. O sapateado no pedal board é enorme,
pois tem som limpo, dois tipos de distorção, flanger, harmonizer, delay e assim
vai. O solo de baixo também ficou muito bacana, começando com um lick bem
complicado. Vocês têm que ver!!!
Sobre a gravação,
foi aquele lance: acordar cedo num domingo pós-show e viajar vários kms até
chegar à cidade de Piedade - SP, onde usamos uma casa abandonada da família do
nosso produtor como cenário. Lá passamos o dia todo testando todo o tipo de
maluquice, tipo fazer imagem de passarinhos mortos, usar móveis largados por
todo o lado, correr o risco de despencar junto com o chão do segundo andar e
assim vai. Aqui é com emoção.
Como foi fazer
este clipe e quais os impactos dele na carreira do grupo?
Paulo: Tem aquele lance, quando você é moleque, meio que
sonha em ter uma banda que vai gravar um disco, um clipe, vai subir num palco e
tal. Nós estamos vivendo isso agora e está sendo muito louco, mesmo que o
retorno do público seja baixo. Com a banda estamos vivendo experiências de vida
que não sairão nunca da memória. Vale notar que nenhum de nós só ficou sonhando
também, todo mundo se preparou muito para isso, são milhares de horas de
treino, investimento de grana, alvarás com as esposas e tudo mais. O clipe é
então um sumário de tudo isso e, mesmo que tudo acabasse hoje, já teria valido
a pena. Acho que esse trabalho coloca a gente um passo acima do que estávamos
como músicos e compositores.
Fale um pouco
sobre a criação da capa do “Remains of the Past”.
Paulo: Eu tenho umas ideias assim que me ocorrem quase
que do nada. Tenho umas visões escutando minhas músicas e, uma delas, foi o
deserto com uma árvore morta no meio. Aí o Danilo, baixista, colocou em prática
e deu os toques dele. Eu curti muito o resultado.
Uma das perguntas
feitas em nossa entrevista passada foi sobre a falta de público nos shows de Metal
nacional. Como está essa questão hoje? Houve alguma evolução?
Paulo: Sempre que eu falo sobre isso dá merda. Mas eu
não tô nem aí, doa a quem doer, a verdade tem que ser dita. Em minha opinião, o
grande problema é que na nossa cena existem grandes músicos, grandes
produtores, grandes jornalistas, mas poucos headbangers. Todo mundo quer vender
algo dentro da cena, mas ninguém se interessa por nada que seja dela. Para mim,
músico de banda Underground, quem não cola nunca em rolês para prestigiar não vale
de nada, por melhor que ele seja. Banda que cola para tocar e não apoia o
evento como um todo, chega/toca/vai embora correndo, também não, assim vai. E,
quem estiver lendo, antes de falar “brasileiro é burro”, “apoie a cena” e todo
esse blá blá blá, faça você a sua parte.
Hoje em dia tem
mais gente falando “ninguém apoia a cena” do que colando nos shows, de fato.
Nós que atuamos na cena temos a obrigação de alimentá-la, pois nós somos os
principais interessados nisso. Chega de esperar que o rockeiro nutela, que vai
ao Rock in Rio cantar “Fear of the Dark” pela milésima vez e fazer chifrinho
para a câmera do Multishow, vai sair da casa dele, do cinema, do shopping, do
barzinho e tal, no dia a dia dele, para nos apoiar. O Metal nacional não
significa nada para eles. Nós por nós mesmos, essa é a solução.
Política: Como se
encontra essa questão em relação ao aspecto lírico e o que este assunto
interfere hoje no cenário da música pesada?
Paulo: Outro assunto que sempre que eu falo, o coro come
kkk. Em todas as músicas políticas do KADABRA, nós xingamos todo mundo, sem
exceção: quem vota no Lula, quem vota no Bolsonaro, no Tiririca, Kid Bengala e
etc. Odeio a idolatria cega, odeio mais ainda quem espera que esses
engravatados vão se preocupar conosco um dia. O lance é o “do it yourself”,
você tem que fazer o seu melhor no dia a dia. Fala que político é ladrão, mas
mija na tampa do banheiro público e larga tudo sujo.
No meio
artístico, para mim, há uma tendência pseudo-esquerdista. Digo isso, pois todo
mundo fala “contra isso e contra aquilo”, mas quase ninguém sabe de porra
nenhuma. Quem já estudou autores como Carl Marx, Adrian Smith (não é o
guitarrista do IRON MAIDEN), Bourdieu, Freud, Skinner...? Já ouvi falar até que
boicotaram bandas porque os caras votaram no Bolsonaro ou porque os caras são
cristãos. Vão arrumar o que fazer, galera. Só para deixar claro, eu odeio o
Bolsonaro, o acho um oportunista medíocre, mas e o Lula? Ah, esse é legal para
caralho, pobre anda de avião agora kkk. Ele deixou de ser pobre também, se é
que vocês me entendem. Enfim, falei tudo isso, para defender meu ponto: quer
que algo mude? Dê seus pulos, comece por aí, não fique achando que alguém vai
resolver por você.
Chegamos ao fim
de mais uma entrevista e, como habitualmente fazemos, deixamos o espaço
totalmente aberto ao grupo. Por favor, mandem o recado de vocês ao público.
Paulo: KADABRA está sempre por aí, como banda e como
headbangers, somos fáceis de encontrar e queremos ver todo mundo por aí. Muito
obrigado a todos que estão dando seus cinco centavos pelo Metal nacional. Vamô
pra cima!!!
Fotos: Arquivo da
Banda
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