Grinding Reaction
Uma nova entrevista de peso aqui no VIOLENT NOISE. É
com muito orgulho que recebemos Renato Spadini Junior em nosso espaço, o
baixista e fundador do GRINDING REACTION, grupo de Diadema/SP que faz uma
mistura de Hardcore com Thrash Metal. O resultado disso é um som violento,
feroz e pesado com letras cantadas em português. Em nossa conversa, o músico
falou um pouco sobre o começo do grupo, as mudanças de formação, o
posicionamento político e ideológico entre outros assuntos.
Confiram a entrevista e vamos apoiar o nosso
Underground. Demais detalhes também podem ser obtidos no Facebook oficial do
grupo.
Apreciem e prestigiem!
Como foi o começo de tudo e como está a formação do
grupo atualmente?
Renato: A banda foi formada no ano 2000,
na cidade de Diadema, que fica na região do ABC Paulista, com Leandro Rueda na
bateria, Renato Spadini Jr (eu) no contrabaixo, Hugo Osvaldo na guitarra
e J.M. na voz. Essa formação se manteve estável até 2005 e neste período
foram gravados a demo tape “Grinding Reaction”, lançada em k7, e o EP “Oppression, Negligence, Tears and Blood”. A partir daí a banda
entrou em um longo e conturbado período de troca de integrantes, que culminou
com uma parada das atividades em 2008, que durou quase três anos. Em 2011 a
banda volta a ensaiar regularmente, contando com Renato e Hugo, ambos da
formação original, porém ainda não havia estabilização do Lineup. Este problema só seria
parcialmente contornado em 2014 com Weslley Ferreira na bateria, Renato Spadini Jr. no contrabaixo, Victor
Rota na guitarra e Ricardo Marchi, que estava na banda como guitarrista desde
2011, na guitarra e voz. E com essa formação foram gravados o EP de
2015, “Tempo, Persistência e Fúria”, e o Full-length de 2018,” O Caos Será A Tua
Herança”. Após a gravação do Full, Ricardo decide ficar apenas com a
voz e o guitarrista Rafael Santos (ex- ARTICULADO) entra no time. Finalmente no
primeiro trimestre de 2019, Victor Rotta deixa a banda por motivos
pessoais e define-se a atual formação da banda: Weslley na bateria,
Renato no contrabaixo, Rafael na guitarra e
Ricardo como vocalista. Ufa!!!!! Kkkkkk.
Como ocorre a criação das letras e dos sons?
Renato: Os arranjos são compostos por todos os
integrantes, juntamos os riffs e montamos as músicas ou um dos integrantes traz
uma base pronta e mantemos na íntegra ou a ajustamos. Esse processo é
extremamente democrático, sempre buscamos atender as demandas de todos. Já as
letras, nos dois últimos álbuns, foram escritas por mim. Não existe um
processo padrão para a composição das letras, tudo é muito intuitivo e
espontâneo, às vezes uma frase, um filme, uma notícia, servem de inspiração
para iniciar a escrita da letra de uma música. Sou professor de História, as
minhas leituras, aulas, a convivência com os mais jovens e o fato de lecionar e
morar na periferia de São Paulo também contribuem muito para esse processo
criativo e dão o tom político e crítico das mesmas.
"O Caos Será a Tua Herança” foi o primeiro Full de
vocês. Como se deu o lançamento deste trabalho e o que ele trouxe em termos de
projeção para o grupo?
Renato: “O Caos Será A Tua Herança” foi lançado em dois
momentos: no mês de maio de 2018 lançamos o álbum nas plataformas digitais com
o apoio da Roadie Metal e depois em junho do mesmo ano fizemos um
show em Diadema, no Container Pub Stop, para o lançamento do CD físico. Este
show contou com a participação das bandas D´ZASTER, INSIDE WAR, LETHALL e
RHINO. Neste evento também gravamos dois vídeos ao vivo das músicas “Pesadelo”
e “Inimigo no Espelho”. Este trabalho teve uma ótima aceitação tanto da
imprensa especializada quanto do público. Foram muitas resenhas positivas, em
2018 o site “O Solo” considerou “O Caos Será A Tua Herança” um dos cinco
melhores CDs de Metal Alternativo daquele ano, o que para nós é um grande
reconhecimento. Além disso, também rolaram vários shows com bandas importantes
do Underground brasileiro e mundial. Estamos colhendo muitos frutos com este
Full-length.
Temos acompanhando um pouco da carreira da banda e
percebemos que vocês têm feito uma série de shows. Como está essa rotina na
carreira do GRINDING?
Renato: Sim, é verdade, temos nos desdobrado para
conciliar os compromissos particulares com os da banda, mas tem valido muito a pena.
Desde início da divulgação do “O Caos Será A Tua Herança” temos feitos vários
shows em festivais dos mais variados estilos e bandas mantendo as raízes
Underground, mas também tocamos com bandas tradicionais com muitos anos de
estrada e um peso considerável no Underground como: RATOS DE PORÃO, PAURA,
SURRA, LETHALL e KRISIUN. E o bacana é que não parou por aí. Dia 14/07/2019
tocamos com o KORZUS, outro ícone do Metal nacional, nas comemorações do Dia
Mundial do Rock, São Bernardo do Campo, organizado pelo Coletivo Rock ABC e a
Prefeitura de SBC E pelo que temos planejado, vem muito mais por aí.
Temos lido, nas Redes Sociais, algumas afirmações de
grupos que defendem que o Metal ou Rock não possuem um posicionamento político.
Vocês concordam com essa afirmação ou têm outro ponto de vista em relação ao
tema?
Renato: Não concordamos. Para nós da banda GRINDING
REACTION que nesse álbum "O Caos Será A Tua Herança", mais do que
nunca, ousamos misturar o Punk, o Metal e o Hardcore, movimentos diferentes,
porém, que mantém um parentesco entre si, já que tiveram suas essências
propostas no bojo da Contracultura, do icônico ano de 1968, que propunha a
ruptura cultural e a discussão política, conceitos que sempre estiveram e
devem continuar presentes na estética musical e na retórica dessas maneiras de
pensar a música e a vida! Negar isso leva a despolitização da cena e a perda de
um espaço de troca de ideias. Cada vez mais percebemos um esvaziamento
filosófico e político destas músicas, principalmente as produzidas no
Underground nos últimos anos, fato que deixa suas marcas negativas, ou
seja, uma grande parte dos adeptos do Punk, do Metal e do Hardcore não
conseguem compreender que existe uma finalidade nestes estilos que vai muito
além da música, que são políticos-filosóficos-artísticos-culturais, e não mero
entretenimento! Estamos apontando esses movimentos como construtores e
difusores de visão crítica, protesto, consciência política e da ruptura com as
imposições sistêmicas. Redescobrir as origens destes movimentos é fundamental
para combatermos a alienação que cada vez mais toma conta da cena Underground
não só no Brasil, mas, em outras partes do planeta, onde estes deixaram suas
reverberações. O GRINDING REACTION acredita nessa finalidade e busca fazer
de sua música e letras uma manifestação desses ideais.
Vocês gravaram um vídeo para a música “Cultura do
Terror”. Este trabalho ficou sensacional e acabou fazendo parte do Canal
Hardcore WorldWide. Como foi o processo de gravação e como foi fazer
parte de um Canal tão conceituado quanto este?
Renato: Obrigado! Também ficamos muito felizes com o
vídeo clip “Cultura do Terror”, com um orçamento baixo e apostando na
criatividade e juventude da galera da MKV Produções chegamos a um resultado
final fantástico que nos orgulha muito. O processo foi bem legal, um pouco
tenso, mas aprendemos muito com ele. As imagens foram captadas no Ferol festival que ocorreu em
Diadema, no ano de 2016, com o apoio da prefeitura municipal, e o áudio é o de
estúdio, gravado no EP “Tempo, Persistência e Fúria”. Bem, ter um vídeo no
H.C.W.W. era, principalmente para mim, um sonho, ter seu trabalho em um canal
mundial com bandas de Hardcore de todos os cantos do planeta é sensacional.
Além disso, ainda temos a honra de ter nosso clip ao lado dos trabalhos de
grandes nomes do estilo como SUICIDAL TENDENCIES, AGNOSTIC FRONT (tocando THE
RAMONES), SLAPSHOT, etc. Ou seja, é muito foda! Vida longa ao H.C.W.W.
Se tivessem que escolher uma banda nacional e outra
internacional para dividir o palco, quais seriam e por quais motivos?
Renato: Difícil. Acho que de bandas nacionais seria muito
bacana tocar com o SEPULTURA ou com os irmãos Cavalera! SEPULTURA por tudo que
representa na cena Metal nacional e mundial e com os irmãos Cavalera pelo mesmo motivo, eu
particularmente sou um grande fã do Max e do Igor. Já bandas gringas sei lá,
são tantas, talvez estariam na ponta da fila MADBALL, BIOHAZARD, D.R.I.,
SLAYER, SICK OF IT ALL, pois são alguns dos grandes representantes do tipo
de música que ouvimos e que influencia nosso trabalho!!!!!
Estamos encerrando nossa conversa. Deixem um recado aos
seus seguidores e aos apreciadores do som extremo.
Renato: Muito obrigado a todos que nos seguem e apreciam
nosso trabalho! O apoio de vocês e suas manifestações de carinho são essenciais
para nós! Continuem juntos conosco, entrem em contato, nos levem para
tocar nas suas cidades, falem conosco nas redes sociais, um grande abraço a
todos vocês. Para a galera que curte som extremo peço que passem a olhar as
bandas nacionais com mais atenção, pois há trabalhos muito bons e
profissionais de alto nível espalhados por todo o país. Não sejam
preconceituosos com vocês mesmos, pois as bandas nacionais são formadas por
caras e garotas iguais a vocês e com histórias muito semelhantes, pensem nisso!
Ouçam a música Underground brasileira, compareçam aos shows, comprem
camisetas, CDs, adesivos, sigam-nas nas plataformas digitais, pois vocês
vão se surpreender. As bandas estadunidenses e europeias são
grandes e são a matriz de tudo que ouvimos e amamos, mas tenham
certeza que elas nos ensinaram direito e nós brasileiros estamos produzindo um
puta som fudido! Respeito, Atitude e União! E paz e saúde a todos!!!!
Fotos: Arquivo da banda
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