The Decliner
Estamos fechando o mês de maio com uma novidade muito bacana aqui no VIOLENT NOISE. Através de uma parceria com o OESTE SELVAGEM, um blog que lida com questões musicais, culturais e artísticas, fechamos mais uma entrevista interessante e de um projeto bastante diferente. Nosso colaborador Murilo conduziu essa conversa com Diego Guime, o criador do “The Decliner”, uma One Man Band que faz um som eletrônico, repleto de batidas, sintetizadores e até trechos dançantes. Nessa breve conversa, Diego nos conta como tudo começou, suas principais influências musicais, o processo de gravação do novo álbum e outros detalhes.
Confiram a entrevista e apoiem o nosso Underground e a música independente. Demais detalhes também podem ser obtidos no Facebook oficial do projeto.
Apreciem, divulguem e prestigiem!
Relate como foi o começo de tudo.
Diego: Eu criei a THE DECLINER em 2011, em Santo André/São Paulo, cidade onde ainda resido. Tudo começou como um projeto paralelo, já que na época eu era vocalista e guitarrista de um Power Trio Grunge/Alternativo que se chamava SCREAMING LIGHTNING. Um ex-membro deixou um sintetizador comigo e eu decidi aproveitar o tempo livre para fazer algumas músicas climáticas, trilhas instrumentais e subir este conteúdo na antiga plataforma PureVolume.
Em 2013 minha banda já estava acabada quando recebemos o convite de uma amiga pra tocar em um festival beneficente, o Doar-se Music Festival, que ocorreu em São Matheus. Eu aceitei o convite e tentei reunir a banda, sem sucesso. Resolvi tocar sozinho mesmo e me apresentar como THE DECLINER. Uma semana antes do festival eu viajei para Praia Grande com meu notebook e voltei de lá com seis faixas (todas elas estão em “Sounds Like Heaven”, álbum recém-lançado), ensaiei sem parar por dois dias e quando eu subi naquele palco sozinho, não teve mais volta: encarei uma plateia de umas cem pessoas, sem a minha banda ou minha guitarra. Na semana seguinte eu já tinha outro show marcado e para o mês seguinte também. E eu adorei, pois aquilo dependia apenas de mim e eu sempre quis subir no palco mais livre, sem instrumentos na mão, para poder pular, dançar e interagir mais com o público.
Como surgiu a ideia do nome?
Diego: THE DECLINER significa “o declinador”, aquele que causa o declínio, a queda, a decadência. Porém é uma palavra que não existe no dicionário em inglês, mas é usada de forma informal.
Tive a ideia do nome após folhear o encarte do álbum “Amnesiac” da banda RADIOHEAD e me deparar com a frase “the decline and fall of the roman empire”. Achei legal a ideia de que alguém pode causar o declínio de um império, tinha tudo a ver com a temática das minhas músicas e letras sobre estar em declínio e ter que lidar com vícios, angústias e mesmo assim ainda ter esperança.
Quais as principais influências musicais?
Diego: Bandas que têm um forte apelo nos teclados, batidas e efeitos como é o caso do DEPECHE MODE, NINE INCH NAILS, NEW ORDER, BJÖRK, FAITH NO MORE e DEFTONES.
Alguns artistas mais novos e fora do Rock me influenciaram não só musicalmente, mas no modo como se apresentam ao vivo também. É o caso da GRIMES, LORDE, CRYSTAL CASTLES, KANNYE WEST, que já subiram sozinhos no palco, com apenas batidas e efeitos reproduzidos por computadores e teclados para cantarem em cima.
Mas eu tiro ideias de muitos estilos, não sigo um padrão. Amanhã eu posso estar lançando um álbum mais Jazz ou mais Heavy Metal caso as músicas se desenrolem por estes caminhos - risos!
Conte-nos como foi o processo de gravação do "Sounds Like Heaven”.
Diego: Em 2015 eu pesquisei o preço de uns equipamentos e decidi montar um estúdio no banheiro de casa, que chamei de Meet Me At The Bathroom Studios (estúdios encontre-me no banheiro). Comprei microfone condensador, uma mesa de quatro canais, um gravador de mão e forrei meu banheiro com colchão e lençol. Mas como só temos um banheiro em casa, eu tinha que desmontar tudo após o uso.
Com esse trabalho todo pra montar e desmontar e o meu despreparo, a produção do álbum acabou durando um total de cinco anos, entre idas e vindas. Por dois anos seguidos, entre uma folga e outra do trabalho, eu cheguei a gravar em torno de cinco takes para cada música, descartar todas, ficar frustrado e deixar de lado. Passei a estudar produção por conta própria, vendo tutoriais, lendo fóruns e passei a fazer treinos vocais todos os dias.
Em 2019 eu finalmente sai da vida frenética do comércio de shopping e montei uma produtora de fotos e vídeos, a Twinsted Films, onde além de registrar fotos e eventos eu tenho feito meus videoclipes. Com um maior tempo livre, eu tive pique pra gravar e trabalhar na produção das músicas todos os dias, de setembro até final de março de 2020, lançando o álbum coincidentemente em quatro de abril, mesmo dia em que se inicia a história distópica no clássico livro “1984” do escritor britânico George Orwell, um dos meus favoritos.
Como se dá a criação das letras e composições?
Diego: Algumas vezes eu pego o notebook e começo a mexer nos programas, faço colagens com batidas, samples e efeitos e improviso alguma letra em cima, para depois arrumar tudo e ir fazendo a letra. Outras vezes, a inspiração vem do nada, ao assistir um filme ou ler um livro. Às vezes as músicas surgem durante um sonho e eu fico forçando para acordar, corro para pegar o celular e gravar a ideia. O fato é que eu gravo ou anoto tudo que pode virar música, tenho uma pasta de ideias que visito de tempos em tempos para ver se sai algo legal.
Planos futuros: o que você tem em mente?
Diego: Atualmente estou produzindo o videoclipe da faixa “Blur”, que filmei há dois anos em Hortolândia, interior de São Paulo. Estou aproveitando a quarentena para gravar o segundo álbum, intitulado de “Book Of Dreams”. Ele tem uma abordagem diferente do primeiro, com músicas remetendo a sonhos ou pesadelos, interlúdios entre faixas, guitarras mais pesadas em algumas músicas, enquanto outras são mais dançantes. Está ficando mais bagunçado, experimental e estou me divertindo muito trabalhando nele!
Fale um pouco sobre o desafio de se ter e manter um projeto no Underground nacional.
Diego: O Underground nacional é uma mistura de dedicação, superação e entusiasmo. Existem dificuldades, porém nunca se teve tanta abertura e divulgação graças a blogs como o VIOLENT NOISE. O DIY de hoje possibilita a criação e dedicação desse tipo de crítica em manter o Underground respirando. As mídias sociais abriram portas e o público está passando por elas.
Para quem quer montar uma banda, ser ouvido, a hora é agora. Dá pra aprender a tocar desde instrumentos até produção musical por meio de tutoriais. Hoje os artistas não dependem mais de estúdio ou gravadora para produzirem e lançarem suas músicas, pois existem diversas plataformas musicais disponíveis. O recado que eu dou a todos que têm receio de começar é: se arrisquem, façam suas músicas, mesmo que sejam simples ou diferentes, com certeza vai existir um público para você.
Mas ainda existem dois pontos que eu vejo como músico independente no Underground que precisam de melhoras: a dificuldade e conflito de interesses com os donos de estabelecimentos e a falta de atenção da crítica especializada, seja ela através de revistas, blogs e sites maiores.
A maioria dos estabelecimentos prioriza bandas covers ao invés das autorais, pois segundo eles atraem mais público e mais dinheiro. Alguns bares sequer retornam o contato ou ouvem seu material enviado. Já fui recusado em festivais de Rock e casas de show por ser um artista solo ou não cantar em português. E em alguns dos locais disponíveis para o autoral, você tem que se sujeitar a vender uma cota de ingressos para poder tocar.
O mesmo se aplica à crítica, seja ela especializada ou de sites e blogs musicais famosos. Visando somente a publicidade própria, anunciante e cliques, ignoram o Underground, priorizando apenas o Mainstream. O artista hoje tem que peregrinar atrás de divulgação para o seu show ou seu álbum recém-lançado, quando na verdade deveria ser o contrário, eles estarem mais atentos e valorizando o trabalho de bandas independentes.
É preciso uma cobrança maior do público, exigir o Underground aos donos dos estabelecimentos, nos blogs e sites especializados. E por favor, continuem com este apoio maravilhoso que vocês têm feito, indo a shows, descobrindo e divulgando seus artistas favoritos!
Fechando nossa breve conversa, deixe um recado aos seguidores do projeto e aos amantes da música.
Diego: Eu agradeço muito a todos que têm ouvido e curtido o álbum. Cada curtida, cada view, cada streaming faz tudo valer muito a pena e minha vontade é de agradecer pessoalmente a cada um de vocês!
Quero agradecer muito a minha esposa Giseli Montai pelo apoio e aos meus amigos Augusto Conter, Cauê Gomes e André Andrade pela ajuda e por sempre estarem agitando nos shows.
Obrigado ao VIOLENT NOISE pela entrevista e por seu esplêndido trabalho! As matérias são bem escritas, as entrevistas e reviews relevantes. A dedicação de vocês na divulgação e descoberta de bandas tem sido maravilhosa. A música Underground respira aqui. Nunca o Mainstream foi tão dispensável. Afinal, aqui temos um lugar pra poder discutir, compartilhar e viver o nosso Rock, do nosso jeito!
Fotos: Arquivo da Banda
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